quarta-feira, 21 de maio de 2014

Não sei distinguir no céu a várias constelações

Sou um homem abençoado. Já vivi muitas emoções. E minha maior bênção é continuar a me emocionar sempre. Minha maior emoção recente ocorreu no dia 18 de Janeiro, no casamente de minha filha Clara, com o Felipe. Sempre critiquei o clichê "não há palavras"com a argumentação de que palavras há. O dicionário está cheio delas. O que falta é capacidade de argumentar e descrever.  Ok. Eu me rendo: Não tenho capcidade de descrever o quanto foi bonito. Só quem estava presente sabe.
Uma das felicidades foi reunir muitos familiares e sentir a graça de saber que o sangue e a vida do Sô Wilson e Dona Neném produziram tanta felicidade: 18 de Janeiro - casa da Rosângela











 
Quando idealizei o Encantado, pensei em desenvolver algo que dependesse apenas de mim. Que buscasse a satisfação pessoal apenas pela certeza de estar fazendo algo correto, algo em que acreditasse com todas as minhas forças e que não dependesse da ajuda de outras pessoas. Quem quisesse contribuir, ótimo. Se ficássemos sozinhos, também tudo bem, mas sem ficar fazendo concessões para obter apoio. Calejado e escaldado por idealizar projetos comunitários (rádio comunitária, partido político, candidaturas, projetos educativos entre outros) e não conseguir concretizar sempre, resovi me satisfazer. E só.
Mas é muito bom quando pessoas de quem gosto muito, se sentem à vontade no Encantado. Sinto que minha satisfação se estende a outras pessoas.
Aconteceu no dia seguinte ao casamento de minha filha, Clara:










 
 
 
Em 1960, o ano em que nasci, Cecília Meireles escreveu essa poesia. E quando a li, em 2014, não pude deixar de me perguntar: Cecília me conhecia? Sabia o homem que eu iria me tornar? Era uma profetisa me adivinhando? Ou era apenas uma mulher banhada no conhecimento e aceitação de nossos mistérios, que tinha a coragem de confessar a ignorância e perpexidade diante da vida, que eu professo?
Perguntas sem respostas, mas uma amostra de como me sinto perante o mundo e perante meus amigos e minha família: "Não, não sei, na verdade, como são em corpo e alma todos os meus amigos e parentes. Não entendo todas as coisas que dizem, não compreendo bem de que vivem, como vivem, como pensam que estão vivendo."

Com a palavra, Cecília Meireles

Não sei distinguir no céu a várias constelações:
não sei os nomes de todos os peixes e flores,
nem dos rios nem das montanhas:
caminho por entre secretas coisas,
a cada lugar em que meus olhos pousam,
minha boca dirige uma pergunta.
Não sei o nome de todos os habitantes do mundo.
nem verei jamais todos os seus rostos,
embora sejam meus contemporâneos.
Não, não sei, na verdade, como são em corpo e alma
todos os meus amigos e parentes.
Não entendo todas as coisas que dizem,
não compreendo bem de que vivem, como vivem,
como pensam que estão vivendo.
Não me conheço completamente,
só nos espelhos me encontro,
tenho muita pena de mim.
Não penso todos os dias exatamente do mesmo modo.
As mesmas coisas me parecem a cada instante diversas.
Amo e desamo, sofro e deixo de sofrer,
ao mesmo tempo, nas mesmas circunstancias.
Aprendo e desaprendo,
esqueço e lembro,
meu Deus, que águas são estas onde vivo,
que ondulam em mim, dentro e fora de mim?
Se dizem meu nome, atendo por habito.
Que nome é o meu?
Ignoro tudo.
Quando alguém diz que sabe alguma coisa, fico perplexa:
ou estará enganado, ou é um farsante
- ou somente eu ignoro e me ignoro e me ignoro desta maneira?
E os homens combatem pelo que julgam saber.
E eu, que estudo tanto,
inclino a cabeça sem ilusões,
e a minha ignorância enche-me de lágrimas as mãos
















Um comentário:

  1. Amei Naldon. Me emocionei. Perfeito... Assino em baixo de suas palavras...

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