sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eros e Psiquê - Fernando Pessoa



Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fotos da semana 02/06/2012

Fotos e palavras. Imagens à vista. Ideias que surgem. Lembranças que veem. Palavras que vão.

Congresso Borboletístico do Encantado.
Você não foi convidado?
Xiiii...Será que você ainda
é um mandarová?
Saravá!

Hoje é flor. Amanhã, rapidinho vira melão.
De São João.

Capelinha de melão
é de São João.
É de cravo,
é de rosa,
é de manjericão,

Minas da Lua
(Gildes Bezerra)
A lua nasce do ventre de Minas
Entre colinas e quaresmais.
E eu ponteio a viola enfeitada
De fita encarnada
Pra lua escutar.
A acácia mimosa simula em gotas o que um dia será flor, bela.
É mimo só.
A manhã de chuva amanhece.
Cheia de manha, escorrendo uva,
sua boca fresca tece
o beijo que me endoidece.
... E eu corri, pro violão, num lamento, e a manhã nasceu azul. Como é bom poder tocar um instrumento. (Caetano Veloso)
Choveu

Beto Guedes

Não tem nada mais bonito
Lá na terra ja choveu
E não tem verde mais bonito
Nos teus olhos bonitos
Não distrai o pensamento
Lá na terra ja choveu
Meu coração é deserto
Lá na terra choveu.
       Chapeu de sol

Contos, cantos, contas.
Lágrimas de cristal.
Contas, terços, rosários.
Oração.
Ação.
Conta
pra mim?




Já não sei mais o que é fazer contas
Até já perdi as contas
Dos cantos dos rios das contas
Que meu peito, amor, cantou,
Perdido de amor,
Por ti. (Elomar)