segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um Pé De Jequitibá Rosa No Meio Do Mato


Plantei um pé de jequitibá rosa no meio do mato. Para lembrar o tempo em que o amor estava escondido e eu não via. Ele estava lá, meio perdido em meio a outras coisas, outros sentimentos. Estava lá, se firmando no solo da minha vida, espalhando raízes, marcando território, se desenvolvendo. Feito um jequitibá-menino, no meio da mata, perdido em meio a árvores maiores, confundido entre outros verdes, mas lá, no seu lugar.
O amor também estava lá, desapercebido. Eu passava e não via. Eu sentia e não sentia. Ou sentia mas não sabia. Não sentia o sabor. Não aproveitava o calor. Não me abrigava. Talvez não desse o valor porque o achava pequeno. E me perguntava: Um amor pequeno também é amor? Há medida para isso?? O jequitibá deixa de árvore por ainda ser pequeno, por estar oculto, por não estar percebido?
Até a gente mesmo, quando sabemos o que somos? Quando tomamos conhecimento de nosso eu? Qualquer que seja a resposta, nem por isso deixamos de sermos a pessoa que somos.
O amor também não. Ainda que o achemos pequeno, se for amor, será como o jequitibá no meio do mato. A gente deixa ele lá e ele vai tomando conta do espaço. Estende seus galhos em abraços, enrola cipós em laços, estende raízes profundas que atravessam o coração (do chão fértil, peito de homem), braços enlaçando corpos nus.
E quando achamos que vamos continuar ignorando-o, ele emerge acima de tudo e já não dá mais para fazer de conta que ele não está lá. Ele é O amor. Ele é A árvore. Ele é O jequitibá. E a vida já não é possível sem ele. “Não dá mais pra segurar. Explode, coração”.
Sabe aquela altura média das árvores, quando a gente vê uma mata com copas uniformes? Ressalta-se aqui e ali pequenas ondulações de árvores um pouco mais altas ou um pouco mais baixas do que as outras e a gente enxerga um todo. Pensa naquilo com igualdade, com uma idéia de que tudo é a mesma coisa. Agora imagine um pé de jequitibá rosa despontando acima da copa das outras árvores. Tronco ereto se destacando, se lançando pro alto, gritando sua força de atração. E quando chega lá no alto, despacha seus galhos, estampando-se como um outdoor onde está escrito: “Sou EU, o Amor”. E quando você acha que acabou, o verde das folhas se pinta de rosa. São as flores do jequitibá-rosa.
Assim é o Amor: um nada que se torna tudo.
Por isso plantei um pé de jequitibá no meio do mato. Para vê-lo crescer e dominar a paisagem. Para lembrar de um amor que eu não via e que não tinha, mas que veio para fazer diferença.
Como diz Adélia Prado: “O amor quer abraçar e não pode. A multidão em volta, com seus olhos cediços, põe caco de vidro no muro para o amor desistir. O amor usa o correio, o correio trapaceia, a carta não chega, o amor fica sem saber se é ou não é. O amor pega o cavalo, desembarca do trem, chega na porta cansado de tanto caminhar a pé. Fala a palavra açucena, pede água, bebe café, dorme na sua presença, chupa bala de hortelã. Tudo manha, truque, engenho: é descuidar, o amor te pega, te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.”