domingo, 2 de novembro de 2014

Bicho Solto

Eu queria aprofundar o que não sei, como fazem os cientistas, mas só na área dos encantamentos.
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Queria descobrir por quê os pássaros escolhem a amplidão para viver
 enquanto os homens escolhem ficar encerrados em suas paredes.
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Queria medir os encantos que existem nas coisas sem importância.
Eu descobri que o sol, o mar, as árvores e os arrebóis são mais enriquecidos pelos pássaros do que pelos homens.
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Poema de Manoel de Barros - texto completo aqui Gratuidade das Aves e dos Lírios
 
Encantado, de 24 de outubro a 02 de novembro de 2014:
 
Multicores contrastando com a frieza do aço. O Beija-Flor vence. 
 
 
O Beija-Florzinho se arrepia ao sol, limpando suas penas. 
 
 
O Bem-Te-Vi mal-humorado briga consigo mesmo nos faróis. 
 
 
No comedouro da varanda, um casal de patativas se regala na quirera de milho. Na minha infância/adolescência, meu pai tinha um patativa cantor na gaiola, Hoje tento me redimir, alimentando os do Encantado. 
 
 
 Esse danadinho aí é um Martim-Pescador. Bichinho arisco edifícil de fotografar. Avista a gente de longe e já foge. A única saída é ir disparando a máquina enquanto ele sobrevoa o rio. Muito difícil conseguir uma boa foto... pelo menos até hoje.
 
 
 Esse, ao que tudo indica é um curió, uma fêmea ou um filhote. Foi o prêmio da semana, pois é raro encontrar um curió solto na natureza. O bicho-homem prendeu quase todos em gaiolas. No Encantado, eles têm alimento e liberdade para viver e procriar. Podem encher o lugar de curiózinhos.
 
 Essa coisa linda aí é um Saí-Andorinha. Ele é um pássaro migratório, que aparece sempre no final do ano no Encantado, quando vem para se reproduzir. Faz seu ninho nos barrancos do Rio Santana.
 E para começar a sessão topete, vejam que belezinha dessa Choquinha-Barrada
 
Com topete e tudo, esse é um Tico-Tico Rei, velho conhecido nosso.
 
 
Esse é um Peixe-Frito, ou Saci (do time dos topetudos), ou ainda, como o chamava Tom Jobim, um Matinta-Pereira.

E para finalizar, um video mais antigo de um João-Bobo "lanchando" uma cigarra. Ele custa a dar conta da tarefa, engasga, mas não desiste. De bobo ele só tem o nome.

 E esse barulhão no fundo é do meu transporte, nossa rural 1972, a Rompe-Estrada.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Mais pássaros

Não nos cansamos de observar, filmar e postar os pássaros do Encantado. Vai nesse vídeo mais uma turminha se alternando para se alimentar em nosso tratador.
É impressionante como tem aumentado a variedade de pássaros que aparece por lá. Também estamos notando que eles estão menos ariscos do que nos anos anteriores. Parece que perceberam que somos do bem e que eles podem ficar à vontade junto da gente.
Ficamos imaginando o que será daqui a alguns anos, quando teremos mais árvores frutíferas para os atrair.
É muito agradável, mas nem posso dizer que é uma surpresa. É apenas a realização de parte de um projeto que ainda está em andamento.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eu e Gabriel, explorando os arredores do Encantado


Nas noites do Encantado, quando o silêncio é ainda maior, a gente escuta ao longe um rumor mais forte da água do Santana. Sempre tive vontade de caminhar rio acima para descobrir a razão do barulho, se alguma corredeira, ou pequena cachoeira.
No dia 25/03, aproveitando um final de férias de meu filho, Gabriel, fizemos a caminhada e chegamos até uma corredeira que nos encheu os olhos. 







  No caminho, diversas fotos, mas quase nada de animais. Mas explorando uma ilhazinha nos deparamos com uma cascavel, tranquila, a qual fotografamos, filmamos e provocamos para ver se ela se mexia. Nada.
Depois de importuná-la sem sucesso, nos despedimos e a deixamos sossegada. (Não sem antes fazer uma recomendação para que ela vigie os acessos ao Encantado e espante convidados indesejáveis...)

De volta ao Encantado, mais fotos de passarinhos:

Beija-flor e suas lantejoulas
Trinca Ferro pousando
Sanhaço avalia o local
Balé das rolinhas
Sanhaço Azul

domingo, 1 de junho de 2014

Casal, casa, casar


Sábado - 24 de maio de 2014
 
Tá lá nos Estatutos do Encantado "Um lugar onde se preserva a natureza, a cultura, os amigos e os valores". Um desses valores é a família, o casamento, o companheirismo entre os casais. Tenho a felicidade de comprovar isso em minha vida. Esse clima de companheirismo é abundante no Encantado. Os amigos que frequentam percebem essa essência contagiante. Nesse mundo onde as pessoas se afastam e muitos casais esperam pelo final de semana, para se separarem mais ainda com reuniões só para mulheres, futebol só para os homens, ou mesmo pessoas que habitam a mesma casa, mas criam abismos entre si, o Encantado é uma ilha de união a proclamar que a vida a dois é boa. Que o diga esse casalzinho de saí-azul (com sua femeazinha verde). Eu já aprendi com meu bem. E agradeço à vida.

 

 

 

 

 
 
 
25/05/2014 - Domingo - 07:00h.
Juizo de valor é uma coisa complicada. É muito difícil avaliar alguma coisa sem ter um conhecimento profundo do assunto, e, pricipalmente, sem ter conhecimento das dificuldaades envolvidas. Por isso, não ouso dizer que as fotos abaixos estão boas, mas digo com segurança que foram difíceis de fazer e que tive sorte. O pássaro fotografado é um martim-pescador, que vejo sempre pelo Santana, mas que nunca consegui uma boa imagem. Nessa manhã, ouvi o grito dele e já fiquei alerta. Logo depois, o barulho de algo caindo n`água: era o martim que havia mergulhado e subiu o rio com um peixe no bico. Apontei a máquina e disparei. Consegui imagens que, se não fazem jus ao colorido das penas, servem para captar o flagrante do pescador obtendo seu café da manhã.

 

 

 
 
26/05/14 - Segunda feira
Fotografar esse gavião foi uma emoção e uma aventura. Eu estava na prainha do Encantado, como sempre armado com a máquina fotográfica. Quando olho parar cima, na margem oposta do Santana, em cima da árvore mais alta, ele está lá, me olhando. O coração dispara. Fingo que não estou percebendo, mas aponto a objetiva e começo a disparar as fotos. Ele fica lá, tranquilo, me olhando, observando aquele bicho abobado, imóvel, apontando aquela coisa na mão.
Já que o gavião parece concordar com a sessão de fotos, me arrisco mais. Começo a entrar no rio, já sabendo até onde dá pé. Vou me aproximando e tirando uma foto atrás da outra. Quando já estou com água pela cintura, ele se cansa e levanta um voo calmo, sobrevoando o fotógrafo. Desesperado e sem tempo de regular foco e distância, sem ter com enquadrar aquelas asas enormes, saio disparando fotos enquanto posso... e ele vai embora tranquilo, soberbo no seu voo. E os passarinhos respiram aliviados. Por enquanto o perigo passou.
P.S. Pelas minhas pesquisas, esse é uma Gavião-asa-de-telha. Mas se alguém for capaz de esclarecer melhor, eu agradeço.
 
 
 
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Não sei distinguir no céu a várias constelações

Sou um homem abençoado. Já vivi muitas emoções. E minha maior bênção é continuar a me emocionar sempre. Minha maior emoção recente ocorreu no dia 18 de Janeiro, no casamente de minha filha Clara, com o Felipe. Sempre critiquei o clichê "não há palavras"com a argumentação de que palavras há. O dicionário está cheio delas. O que falta é capacidade de argumentar e descrever.  Ok. Eu me rendo: Não tenho capcidade de descrever o quanto foi bonito. Só quem estava presente sabe.
Uma das felicidades foi reunir muitos familiares e sentir a graça de saber que o sangue e a vida do Sô Wilson e Dona Neném produziram tanta felicidade: 18 de Janeiro - casa da Rosângela











 
Quando idealizei o Encantado, pensei em desenvolver algo que dependesse apenas de mim. Que buscasse a satisfação pessoal apenas pela certeza de estar fazendo algo correto, algo em que acreditasse com todas as minhas forças e que não dependesse da ajuda de outras pessoas. Quem quisesse contribuir, ótimo. Se ficássemos sozinhos, também tudo bem, mas sem ficar fazendo concessões para obter apoio. Calejado e escaldado por idealizar projetos comunitários (rádio comunitária, partido político, candidaturas, projetos educativos entre outros) e não conseguir concretizar sempre, resovi me satisfazer. E só.
Mas é muito bom quando pessoas de quem gosto muito, se sentem à vontade no Encantado. Sinto que minha satisfação se estende a outras pessoas.
Aconteceu no dia seguinte ao casamento de minha filha, Clara:










 
 
 
Em 1960, o ano em que nasci, Cecília Meireles escreveu essa poesia. E quando a li, em 2014, não pude deixar de me perguntar: Cecília me conhecia? Sabia o homem que eu iria me tornar? Era uma profetisa me adivinhando? Ou era apenas uma mulher banhada no conhecimento e aceitação de nossos mistérios, que tinha a coragem de confessar a ignorância e perpexidade diante da vida, que eu professo?
Perguntas sem respostas, mas uma amostra de como me sinto perante o mundo e perante meus amigos e minha família: "Não, não sei, na verdade, como são em corpo e alma todos os meus amigos e parentes. Não entendo todas as coisas que dizem, não compreendo bem de que vivem, como vivem, como pensam que estão vivendo."

Com a palavra, Cecília Meireles

Não sei distinguir no céu a várias constelações:
não sei os nomes de todos os peixes e flores,
nem dos rios nem das montanhas:
caminho por entre secretas coisas,
a cada lugar em que meus olhos pousam,
minha boca dirige uma pergunta.
Não sei o nome de todos os habitantes do mundo.
nem verei jamais todos os seus rostos,
embora sejam meus contemporâneos.
Não, não sei, na verdade, como são em corpo e alma
todos os meus amigos e parentes.
Não entendo todas as coisas que dizem,
não compreendo bem de que vivem, como vivem,
como pensam que estão vivendo.
Não me conheço completamente,
só nos espelhos me encontro,
tenho muita pena de mim.
Não penso todos os dias exatamente do mesmo modo.
As mesmas coisas me parecem a cada instante diversas.
Amo e desamo, sofro e deixo de sofrer,
ao mesmo tempo, nas mesmas circunstancias.
Aprendo e desaprendo,
esqueço e lembro,
meu Deus, que águas são estas onde vivo,
que ondulam em mim, dentro e fora de mim?
Se dizem meu nome, atendo por habito.
Que nome é o meu?
Ignoro tudo.
Quando alguém diz que sabe alguma coisa, fico perplexa:
ou estará enganado, ou é um farsante
- ou somente eu ignoro e me ignoro e me ignoro desta maneira?
E os homens combatem pelo que julgam saber.
E eu, que estudo tanto,
inclino a cabeça sem ilusões,
e a minha ignorância enche-me de lágrimas as mãos